Inspirado nas placas decorativas de jardim, que em geral trazem frases de positividade e apresentam jardim como espaço de fuga do real, o indicador social faz exatamente o oposto ao apontar para uma realidade iminente. A estética também é tomada dos acessórios decorativos com cores suaves e alegres e desenhos com ar infantil.
Que bandeiras queremos erguer? Que mensagens queremos passar? PERMITIR O AFETO – VIVER O DESEJO – ESQUECER O TEMPO é um convite para um ritmo de vida desacelerado e de permissão para novas vivências e transformações. Um aprofundamento do que sentimos, do que nos afeta e desejamos. A busca por uma vida plena e aberta ao encontro.
AO LONGO DE SUA TRAJETÓRIA, O SALÃO DE ABRIL VEM ATUANDO COMO UM IMPORTANTE ESPAÇO DE PROJEÇÃO E LEGITIMAÇÃO DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA CEARENSE, NÃO SÓ NO CONTEXTO LOCAL, MAS TAMBÉM EM ÂMBITO NACIONAL, REVELANDO NOMES DE PESO COMO O HOMENAGEADO DESTA EDIÇÃO, O ARTISTA RAIMUNDO CELA (1890-1954). UM DOS EVENTOS CULTURAIS MAIS ANTIGOS DO PAÍS, O SALÃO SE CONSTITUI COMO LUGAR DE EXIBIÇÃO DA FORÇA DE PRODUÇÕES JOVENS QUE, EM SENTIDO PROSPECTIVO, SÃO HOJE ÍNDICES DE UMA HISTORIOGRAFIA FUTURA, ESTANDO ATENTO ÀS PRINCIPAIS QUESTÕES POLÍTICO-SOCIAIS QUE REGEM AS GERAÇÕES PELAS QUAIS ELE TÊM ACOMPANHADO.
EM SEU 72º ANO, O SALÃO DE ABRIL CUMPRE SEU PAPEL DE FOMENTAR O SISTEMA DE ARTES DO CEARÁ E, CONSEQUENTEMENTE, DO PAÍS, SENDO MAIS UMA VEZ PALCO PARA DISCUSSÃO DOS SENTIDOS QUE OS ARTISTAS PROPÕEM HOJE AO CAMPO DA CULTURA. COMO CICATRIZ DO PRESENTE, ESTA É A SEGUNDA VEZ EM QUE A EXPERIÊNCIA DO PRÊMIO OCORRE EM MEIO À CRISE SANITÁRIA DA COVID-19, QUE AGLUTINOU UMA SÉRIE DE EXPERIÊNCIAS QUE COMPARTILHAMOS À DISTÂNCIA. AS MARCAS INDELÉVEIS DE UM LONGO PERÍODO DE ISOLAMENTO, SOLIDÃO, EXAUSTÃO, TRABALHO REMOTO, PRECARIEDADE, PERPASSAM AS PRODUÇÕES SELECIONADAS, TANTO COMO TEMA, QUANTO COMO FORMATO DOS TRABALHOS APRESENTADOS.
QUANDO NOSSOS COMPUTADORES SE TORNAM O NOSSO ATELIÊ E A NOSSA CASA SE TORNA O LUGAR QUE CONDENSA TODAS AS FUNÇÕES DO COTIDIANO – TEMOS TRABALHOS DE CUNHO REFLEXIVO QUE MIRAM AS DISTOPIAS CORRENTES UTILIZANDO SOBRETUDO MATERIALIDADES COMO A FOTOGRAFIA E O VÍDEO.
COMO CURADORAS, NOSSAS ANÁLISES MANTIVERAM COMO HORIZONTE A REPRESENTAÇÃO DE UM AGORA TÃO SINGULAR, SEM COM ISSO DESCONSIDERAR O CARÁTER FORMAL DAS PROPOSTAS, ASSIM COMO AS PESQUISAS E PROCESSOS QUE DÃO CORPO AOS TRABALHOS INSCRITOS.
AO TOTAL, FORAM 221 OBRAS ANALISADAS COM AFINCO PARA CHEGARMOS AOS 35 ARTISTAS DESTA EXPOSIÇÃO, OS QUAIS AJUDAM A CONSTITUIR E RENOVAR OS DEBATES DA ARTE CONTEMPORÂNEA. OS EMBATES E DISPUTAS POLÍTICAS DA ATUALIDADE APARECEM AQUI EM SUA PLURALIDADE E NÃO NOS DÃO MARGEM PARA EUFEMISMOS: FALAM DAS LUTAS POR REPARAÇÃO HISTÓRICA, PASSAM PELA CONSTRUÇÃO DE NOVOS E POSSÍVEIS LUGARES DE ENUNCIAÇÃO NA ESFERA PÚBLICA E CHEGAM A 2021 COLOCANDO EM XEQUE O PAPEL DO PODER PÚBLICO NA MANUTENÇÃO E GERENCIAMENTO DA VIDA. MOSTRAM COMO OS ARTISTAS SÃO ENTES POLÍTICOS QUE PENSAM DESDE SEUS LUGARES DE PERTENCIMENTO E CUJAS PRODUÇÕES NOS AJUDAM NA ATRIBUIÇÃO DE SENTIDOS DO QUE VIVEMOS ENQUANTO COMUNIDADE.
A 72ª EDIÇÃO É A PROVA VIVA DE QUE A CULTURA SEGUE RESISTINDO ÀS ADVERSIDADES DE UM BRASIL NÃO TÃO GENEROSO COM OS TRABALHADORES DA ARTE. PRINCIPALMENTE NOS DIAS ATUAIS, ONDE TEMOS DE CONVIVER COM A TOTAL EXTINÇÃO DO MINISTÉRIO DA CULTURA, COM O DESMONTE DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA PASTA E COM A CENSURA EM PROL DA BATALHA IDEOLÓGICA DESENVOLVIDA PELO GOVERNO BRASILEIRO. DESTE MODO, NADA MAIS OPORTUNO DO QUE CELEBRARMOS A OBRA DO PINTOR E GRAVADOR RAIMUNDO CELA (1890-1954) QUE, DENTRE OUTROS FATORES, SE DEDICOU A PINTAR AS PAISAGENS E O COTIDIANO DO TRABALHADOR, SIMBOLIZADO, NA MAIORIA DAS VEZES, NAS FIGURAS DOS PESCADORES, JANGADEIROS E VAQUEIROS DO CEARÁ. NÃO SEM RAZÃO, A NOSSA SELEÇÃO LEMBRA TAMBÉM DA IMPORTÂNCIA DE ENTENDERMOS A ARTE COMO LOCAL DE TRABALHO, MAJORITARIAMENTE FEITA POR TRABALHADORES DA CULTURA. AFINAL, QUAISQUER QUE SEJAM AS ESPECIFICIDADES DAS PRÁTICAS ARTÍSTICAS, ELAS NÃO CONSTITUEM UMA EXCEÇÃO AO MUNDO LABORAL.
ANA CECÍLIA SOARES
LUCIARA RIBEIRO
LUISE MALMACEDA
Assentamento é um encontro com memórias, é um ritual para o encontro com entidades femininas de cura, que usam/usaram vassouras na limpeza de espaços e corpos. A instalação é um meio artístico para performar a vida que atravessa a artista através dos seus saberes e fazeres e entrecruzam arte, magia e cura.
Assentamento é um encontro com memórias, é um ritual para o encontro com entidades femininas de cura, que usam/usaram vassouras na limpeza de espaços e corpos. A instalação é um meio artístico para performar a vida que atravessa a artista através dos seus saberes e fazeres e entrecruzam arte, magia e cura.
Meu avô, ourives e inventor autodidata de Redenção (CE), além de máquinas e joias, inventou uma casa, sua oficina. Esta invenção reconstrói-se nesta instalação através da subversão dos modelos de representação tradicionais em arquitetura: plantas-baixas, cortes, vistas. Entende-se, portanto, a casa enquanto construção subjetiva, íntima e pessoal.
Meu avô, ourives e inventor autodidata de Redenção (CE), além de máquinas e joias, inventou uma casa, sua oficina. Esta invenção reconstrói-se nesta instalação através da subversão dos modelos de representação tradicionais em arquitetura: plantas-baixas, cortes, vistas. Entende-se, portanto, a casa enquanto construção subjetiva, íntima e pessoal.
Meu avô, ourives e inventor autodidata de Redenção (CE), além de máquinas e joias, inventou uma casa, sua oficina. Esta invenção reconstrói-se nesta instalação através da subversão dos modelos de representação tradicionais em arquitetura: plantas-baixas, cortes, vistas. Entende-se, portanto, a casa enquanto construção subjetiva, íntima e pessoal.
Te convido a jogar um jogo da memória com retratos de um Brasil real, meu, invisível. Para jogar tem que estar pronto para se encontrar com as cartas que estão na mesa nesse exato momento na República Brasileira. Cada partida: um discurso. Cada discurso: um ângulo de visão. De que lado da mesa você está? O que é memorável na pátria amada?
Produzido pelo artista na Fábrica Real de Porcelanas de Portugal, Vista Alegre, o tríptico desmonta o estereótipo da figura tradicional e patriarcal de opressão colonial e a oferece como parte de um banquete que incita nosso apetite antropofágico em devorar quem nos devora e que persevera nossa crença de que a vingança é um prato que se come frio.
PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA
José Sarto Nogueira Moreira
Prefeito
José Élcio Batista
Vice-Prefeito
SECRETARIA MUNICIPAL DA CULTURA DE FORTALEZA
Elpídio Nogueira Moreira
Secretário
Francisco Evaldo Ferreira Lima
Secretário Executivo
Ponce Júnior
Chefe de Gabinete
Thiala Cavalcante
Assessora Jurídica
Fernanda Cavalli
Assessora de Comunicação
Eliane Luz
Assessora de Planejamento
Ana Cláudia Mourão
Coordenadora Administrativo Financeira
Gilberto Rodrigues
Coordenador de Ação Cultural
Diego Zaranza
Coordenador de Patrimônio Histórico-Cultural
Cássia Cardoso
Coordenadora de Criação e Fomento
Mileide Flores
Diretora da Vila das Artes
Karla Karenina
Diretora do Teatro São José
Mimi Rocha
Diretor do Centro Cultural Belchior
Eduardo Pereira
Diretor da Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira
Sofia Dantas
Diretora da Biblioteca Pública Infantil Herbênia Gurgel
PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA
José Sarto Nogueira Moreira
Prefeito
José Élcio Batista
Vice-Prefeito
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Diretora da Vila das Artes
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Mimi Rocha
Diretor do Centro Cultural Belchior
Eduardo Pereira
Diretor da Biblioteca Pública Municipal Dolor Barreira
Sofia Dantas
Diretora da Biblioteca Pública Infantil Herbênia Gurgel
INSTITUTO CULTURAL IRACEMA
Paola Braga
Diretora Presidenta
Fernando Mota
Diretor de Gestão Financeira e de Negócios
Deivys Veloso
Diretor de Ação Cultural
Mário Alves
Coordenador de Ação Cultural
Creelmida Andrade
Coordenadora Financeira
Jorge Frota
Coordenador Administrativo
Rosana Rodrigues
Coordenadora de Projetos
Washington Feitosa
Coordenador de Comunicação
COMPLEXO CULTURAL VILA DAS ARTES
Mileide Flores
Diretora
Isabel Almeida
Assistente de Direção
Alderley Rocha
Coordenador do Centro Cultural Casa do Barão de Camocim
Beatriz Gurgel
Assistente de coordenação do Centro Cultural Casa do Barão de Camocim
É COR-PO-LÍTICO, são experiências múltiplas de co-existir, são escrevivências de nossas existências, é a fecundação de “Novos Possíveis”, permeada de arte poética, cuja abordagem se detém a partir da performance arte, bem como pela arte desobediente refletida nas corpografias em contexto.
INSTITUTO CULTURAL IRACEMA
Paola Braga
Diretora Presidenta
Fernando Mota
Diretor de Gestão Financeira e de Negócios
Deivys Veloso
Diretor de Ação Cultural
Mário Alves
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Coordenadora Financeira
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Coordenador Administrativo
Rosana Rodrigues
Coordenadora de Projetos
Washington Feitosa
Coordenador de Comunicação
COMPLEXO CULTURAL VILA DAS ARTES
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Isabel Almeida
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Alderley Rocha
Coordenador do Centro Cultural Casa do Barão de Camocim
Beatriz Gurgel
Assistente de coordenação do Centro Cultural Casa do Barão de Camocim
O título foi uma frase proferida por um engenheiro da prefeitura de Fortaleza, responsável pela obra de uma pista que corta um parque de dunas da Sabiaguaba. A consultora ambiental pediu para que a obra não ocorresse, porém, ouviu que ecologia não passa de poesia. O trabalho condensa esta frase em referências da cultura popular e burguesa.
Oxigênio é uma série de imagens térmicas produzidas a partir do contato do álcool 70º com o papel de cupons fiscais. Como um exercício respiratório, Oxigênio propõe pensar sobre o direito à vida que vem nos sendo negado e denunciar a crise sanitária e econômica que atravessa o país. Bustos, covas, cruzes e pulmões. Imagens de um universo pandêmico.
Através de uma pesquisa sobre bandeiras, tomo emprestado o Código Internacional de Sinais, um tipo de comunicação náutica composta por bandeiras gráficas, na qual cada uma possui uma mensagem. Proponho algumas alterações nos textos das mensagens e chego em novos enunciados.
Temática da desilusão amorosa sapatão, o término de um relacionamento, a vulnerabilidade e intimidade da atriz,performer e diretora Nataly Rocha, que revisita seu material pessoal de vídeo de 2013 à 2021 e o reinventa tendo como principal referência o flerte com o patético e o popular presentes no melodrama e nos trabalhos da mexicana Ximena Cuevas.
A obra parte da vivência da autora com a síndrome de burnout provocada pelo excesso de trabalho na pandemia. As mais de catorze horas diárias sentadas em uma cadeira, associadas às receitas de chá que recebia dos amigos visando à cura, a fizeram construir essas imagens, que podem ser tomadas, diluindo e invisibilizando seu corpo.
A obra fala sobre a solidão de bichas pretes, questionando a visão binária sobre o gênero a partir de memórias e sentimentos. Onde três corpas pretes encontram na dança uma forma de celebração, transmissão de conhecimentos e gestos ancestrais das suas corpas afeminadas sobrepostas ao mar, espaço afetivo ancestral. Quantos de nós ficaram ao mar?
A obra trata-se de um refazer de passos pelos caminhos de Ibicuitinga. Objetos-memórias de territórios físicos e mentais sobre a existência em zonas rurais. Um lembrete singelo sobre coisas que tocaram a infância, e que ainda toca. Com eles, rememorar o estar longe e ainda fazer sentir que pertence, mesmo que se perca a linha cartográfica.
Armamos uma rede para suspender o espaço-tempo, é fluido e se move sem muito esforço. deitamos numa rede para anunciar um outro corpo, flexível e expandido. balançamos uma rede para lembrar que estabilidade é um ponto de vista efêmero, mas seguimos por ter o corpo abraçado aos nossos. sonhamos uma rede que seja proteção contra o arquivo colonial.
XAXARÁ é uma videoinstalação exposta em duas paredes. Ancorada nas tradições dos candomblés, a obra é processo de cura. Ao resgatar os eguns que vagam ao longo da beira-mar e levá-los aos espaços de poder da cidade de Fortaleza, o artista guia as almas ao espaço onde não puderam embarcar ou pertencer: a quartinha com água do mar os presentifica.
Capricha propõe novos olhares sobre as capas de revistas homoeróticas no Brasil do final dos anos 90, mediados por emergências do contemporâneo. Do projeto gráfico paródico ao mundo kitsch dos sonhos de consumo: um exercício político de metaficção sobre a produção da fantasia e do abjeto no imaginário colonial ocidentalizado.
A obra especula sobre a prática da brotheragem a partir da apropriação de imagens da internet e a criação de um conjunto de símbolos que determinam o que seria o corpo do homem sexualmente desejado e objetificado. O tecido fino que reveste o corpo do lutador, a lycra, o músculo proeminente, o volume. Macho que quer macho e não curte afeminados.
A Série Tecituras é uma obra que gera o reencontro de fragmentos fotográficos impressos no século passado rearranjados por meio de recortes e entrelaçamentos manuais, ativando memórias e expandindo a diversidade de relações empregadas no processo de interpretação da mesma.
As imagens têm linhas como princípio comum, se desfazem em uma, se refazem na outra: a vida segue seu fluxo. Os fragmentos sobrepostos, ampliados revelam detalhes da natureza em desintegração: texturas, padrões. A fotografia é a tentativa de parar a ação do tempo possibilitando que as imagens sejam contempladas, no tempo individual da contemplação.
O vídeo experimental aborda uma pesquisa sobre a paisagem interior e a percepção do espaço habitável como local de confinamento. Inspirada nos livros “Cidades Invisíveis”, de Italo Calvino, e “Paisagens Urbanas”, de Nelson B. Peixoto, combino a contemplação do tempo e da luz com os sons e as imagens da minha própria gaiola nos dias de isolamento.
No início do século, a cidade de Jaguaribara (CE) foi inundada para a construção do açude Castanhão. Nos últimos anos, por conta da maior seca a atingir o Ceará em décadas, o nível da água baixou consideravelmente, fazendo ressurgirem as ruínas da cidade antiga. Com elas, questões sobre memória, espaço e clima, representadas pela árvore dita.
Fertilizar imagens é antes de tudo observar as mortes e renascenças diárias. Vivenciar a desertificação da terra junto do corpo, ouvindo a forrageira gigante da urbanização moendo vidas, e guardando as sementes que vão nos vingar. Como amaldiçoar os projetos falidos de modernidade, e dançar vida sobre a terra que pisamos?
Colocando o corpo travesti em perspectiva através de diferentes contextos e temporalidades, a artista descostura uma linha temporal no tecido social em busca de suturas e atenta ao alastramento de sangue travesti através do mesmo.
Janete trabalhou como costureira dos 15 aos 58 anos, quando recebeu o diagnóstico de Doença de Parkinson e precisou parar de trabalhar. A envergadura de sua coluna foi moldada ao longo de uma vida trabalhando na posição da máquina. Pretendo aqui discutir relação corpo-máquina e abrir caminhos para pensar sobre o processo de envelhecimento.
O livro de artista é um álbum coletivo que relaciona à trajetória de vida do autor, retratos em folhas [fitotipias] e saudosas notas obituárias de pessoas negras vítimas de violência racial. Homem negro de 36 anos, Felipe C. traz na obra uma prece e memórias suas em sequência cronológica relativas à idade de morte daqueles honrados no álbum.
Uma exposição de peças gráficas em formato de branding publicitário, onde se apresenta (com ironia) um projeto de instalação para os mais importantes museus e galerias brasileiros: um stand comercial onde serão vendidos pacotes para uma viagem de jangada no sentido Sudeste-Nordeste, tendo como referência a viagem de 4 jangadeiros cearenses em 1941.
Criada a partir dos acontecimentos brasileiros de 2020. Coloca em diálogo significantes como morte, destruição, limite, nojo, resto. Ensaio poético sobre o que nós aguentamos sem dar uma resposta. Distopia da realidade brasileira (ou realismo fantástico?). Diálogo com o ‘Diário de um Cucaracha’ do Henfil. Denúncia ensaística de para onde caminhamos.
A Performance “Eu-não” é construída a partir da reflexão acerca do apagamento histórico da existência das pessoas negras no Ceará e dos reflexos da pressão social existente sobre corpos negros, quando esses são vistos, uma vez que são subjugados e cobrados partindo de uma equidade social inexistente.
A carteira de trabalho da minha mãe, assim como a minha, existia apenas como papel. A ausência de uma escrita empregatícia dá espaço a uma série de desenhos de conchas, elementos marítimos cujas simbologias expressam a ancestralidade no trabalho. Além disso, comentam a tradução livre “empresa fantasma / de fachada”, do termo inglês “shell company”.
O trabalho resgata o misticismo religioso na época em que vivi novenas e missas na minha infância em Aquiraz. Os ritos de maio, novenas e procissões entre santos e anjos, questionava a sexualidade dos santos através de suas imagens na igreja e nos oratórios, imaginando o corpo nu. CorpoSanto é a imagem híbrida do que pode ser puro, e não profano.
De criança viada a adolescência vivida em escola militar.A imagem que os outros construíram para mim, a caixa que me deram para ocupar, o assédio sofrido na adolescência e as marcas e dores de um corpo dissidente que só encontra no seu imaginário um espaço/universo confortável para existir. É a reelaboração e a posse sobre a narrativa do meu corpo.
AME AS DEUSAS é uma intervenção herética realizada por duas bruxas urbanas, que veem a palavra como feitiço simbólico. Partindo da frase AME A DEUS, encontrada no viaduto que divide o caminho entre o Castelão e o Aeroporto de Fortaleza – CE, a proposta deste trabalho é realizar uma intervenção alquímica que transforme esta escrita em AME AS DEUSAS.
A margem de um rio Dias Potyguara vê seus ancestrais passando, de um passado cheio de força a um futuro nebuloso que ele divide com seu filho. Através do rio passam todos os sonhos do povo potiguara, um rio que transborda e sobrevive no sertão, o rio que é escutado por aqueles que são seus descendentes.
A gestação da obra foi atravessada pela fase de despedida do meu ciclo reprodutivo. A composição com manchas de sangue e frases bordadas com cabelos da artista em forma de linhas orgânicas. Cabelos, parte de nosso corpo que resiste a morte. Envelheço e rejuvenesço no processo de criação que me permite engravidar e parir sem limites.